terça-feira, 20 de maio de 2008

Alguém te Ligou

Louco para mudar de emprego, enviei tantos currículos através da internet, correio e em mãos de conhecidos que minha mãe dizia que um dia eu apareceria na TV, em uma reportagem dizendo que eu era a pessoa com mais currículos distribuídos no Brasil.

Para não perder nenhuma oportunidade, meu celular estava sempre ligado e ao meu lado.

Porém às vezes me ligavam em casa, e, minha mãe anotava o recado:

“- Alguém, de alguma empresa ligou durante o dia sobre um emprego e que ligaria no seu celular.

Na maioria das vezes, não recebia essa tal ligação e acabava tendo que ir trabalhar no dia seguinte na mesma bat-caverna.

Dias desses, estava na expectativa de receber uma ligação a qualquer momento. Havia feito uma entrevista, depois outra com o responsável da área, depois um teste, depois uma conversa com a psicóloga e por fim me falaram que eu estava entre outros oito candidatos pré-selecionados. Me senti um número, mas enfim, pelo menos eu era um dos oito.

Acordei naquela manhã e viajei na idéia de que meu celular tocaria antes mesmo de eu descer do ônibus, um voz bonita no outro lado da ligação me diria: “bom dia senhor, meu nome é Michele, sou do RH da empresa ALPHA, e o senhor foi aprovado em todas as etapas de nosso processo seletivo. O senhor poderia começar amanhã?”

Confirmei se havia bateria suficiente em meu celular e lá fui eu até o ponto de ônibus. Pra variar, peguei o mesmo ônibus, com as mesmas pessoas, com o mesmo cheiro, tudo igual, todo dia.

Durante o trajeto, todo ele feito em pé, me distraíram conversas, daquelas ótimas, que uma diarista conta pra amiga como a patroa é sem grana mas vive contando vantagens para as outras vizinhas, ou então a dena de uma mãe levando os três filhos pra escola, um amontoado de crianças num pequeno espaço do banco, todas dormindo uma em cima das outras.

São milhões de histórias que acontecem em poucos quilômetros percorridos em muitos minutos de viagem, acredito que daria até um livro. Vou pensar nisso...

Assim que desci do ônibus, ouvi um sinal vindo do meu celular, rapidamente peguei meu celular e vi uma chamada perdida, gelei da cabeça aos pés, afinal eu era “um dos oito”, porém a ligação vinha de um número restrito e isso me deixou agoniado, pois, não poderia retornar a ligação.

Andei até o escritório onde trabalho, com o celular na mão, mas não recebi nada, nenhuma outra ligação. Não tinha o número do telefone da empresa onde fizera o teste, sabia que tinha um cartão, mas estava em casa. Foi um dia de agonia, quando meu telefone tocava e era alguma ligação pessoal, já dava um jeito de despachar a pessoa rapidamente, afinal eu ainda deveria ser “um dos oito”.

A noite em casa, ouço o clássico:

“- Alguém, de alguma empresa ligou durante o dia sobre um emprego e que ligaria no seu celular.

A minha chance de ser o número 1 entre os oito estava desmoronando. Corri e peguei o cartão da empresa, liguei e pedi o ramal do RH, ouvi uma voz muito simpática me atender, e, quando disse meu nome, ouvi a notícia:

“– Me desculpe senhor, mas tivemos urgência para preencher a vaga e como o senhor não atendeu nossa ligação, optamos por chamar o segundo classificado”

Pois é, agora eu sei que eu era o número 1 “entre os oito”, e, quer saber de uma coisa? Não sei se celular voa, mas ver aquele celular voando janela abaixo foi do cacete...

2 comentários:

Andrea disse...

Poxa essa história até parece o que estou vivendo no momento... agora ficar entre os OITO é cruelkkkkk
Beijos

Andrea disse...

Agora sobre o livro acho sim q vc deve escrever um....adoro suas histórias, eu sou apaixonada por livros e até comecei a escrever um mas sempre paro...