terça-feira, 28 de abril de 2009

A Princesa e o Carteiro

Meu amigo Mike, o carteiro, tinha uma paixão recolhida.

Todos os dias às 7 horas da manhã, pegávamos o mesmo ônibus lotado para ir ao trabalho. A única alegria do Mike, o carteiro, era quando chegávamos no ponto de ônibus onde entrava Edna. Era uma garota que Mike, o carteiro, se apaixonara, mas nunca haviam trocado uma única palavra. Paixão platônica, sabe?

Ele ficava sem graça toda vez que ela entrava no ônibus e vinha em nossa direção. Mudava o rumo da conversa, se aprumava, enchia o peito e aguardava pelo menos um "bom dia". E esse "bom dia" finalmente chegou. Edna entrou no ônibus, pagou a passagem e veio na direção do Mike, o carteiro. Ela deu o tão esperado cumprimento e um pouco sem graça pediu pra ficar na janela onde Mike, o carteiro, estava de pé, próximo ao cobrador. Ele sem entender muito bem o que estava acontecendo, cedeu o lugar. Ela pálida e suando, disse sem cerimônia:

- Não estou bem, tive uma noite de rainha. Da cama pro "trono", do "trono" pra cama.

Mike, o carteiro, parecia não acreditar no que acabara de ouvir. Sua musa, sua Garota do Fantástico acabara de dizer pra ele "oi, bom dia, me caguei toda essa noite, tudo bem com você?". Aquilo foi quase o fim para uma paixão tão arrebatadora que Mike, o carteiro, sentia.

Mas ainda tinha mais por vir.

Ela se sentindo fraca e sem forças para se manter de pé, pediu para Mike, o carteiro, arrumar um lugar para ela se sentar. E ele conseguiu. Mesmo com protestos, ele pediu para uma senhora dar lugar para Edna. Mike, o carteiro, tentou ser o mais discreto possível, mas Edna não ajudava. Ela apertava a barriga e dizia que se não sentasse algo ruim sairia. E sairia tudo.

Eu via no rosto do Mike, o carteiro, que amor nenhum suportaria aquela cena. E, depois de conseguir sentar, Edna ainda apertava a barriga e fazia caretas. A bomba estava prestes a explodir. E que explosão seria aquela.

Edna levantou-se, deu sinal e pediu aos berros pro motorista parar o ônibus para ela descer. Era um misto de risadinhas tensas e sacanas dentro do ônibus. Antes de descer, Edna olha pra Mike e diz:

- Acho que não consegui segurar.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

O Charlatanismo É Uma Arte

Era 1º de abril, dia da mentira, já era fim do dia e não tinha pegado ninguém com minhas "mentirinhas". Ao passar pela recepção tive uma conversa ao telefone interrompida pela secretária:

- Veja minhas fotos.
- Só um minuto Érika, estou ao telefone.
- Olha como eu era bonita quando criança.
- A-hã, verdade. Só um minuto que já vejo.
- Olha essa, olha como eu era linda.
- Tudo bem então, te ligo depois. Deixa eu ver essas fotos aí.


De repente olho pro calendário e vejo o dia 1º de abril em destaque. Minha mente já foi a mil, mas prometi pra mim mesmo que se não conseguisse pegar a secretária numa brincadeira, seria minha última tentativa.

- Nossa Érika, como você era bonitinha mesmo... Mas não é por nada não, mas acho que eu te conheci quando criança.
- Ah, para de brincadeira.
- Não. É sério, acho que estudei com você. Você não estudou ali na...
- Vila Madalena.
- Isso mesmo Érika, estudei lá. Naquele colégio que tinha nome de professor, lembra?
- Sim, no colégio Professor Ruy Almeida.
- Lá mesmo, agora sim to lembrado de você. Eu sentava no fundo da sala, lembra?
- Hummm... Não tenho certeza.
- Agora você vai lembrar, eu era da turma do Paulo
(inventei essa porque toda classe tem um Paulo), lembra dele? Um moreninho...

- Ahhhh, agora sim. Esse Paulo foi um que virou padre?
- Não Érika, você está se confundindo. O que virou padre foi o Ricardo.


Quando eu pensei que já estava exagerando no meu charlatanismo, ela responde:

- É mesmo... foi o Ricardo não o Paulo.


Foi demais pra mim, comecei a me empolgar e inventar histórias e mais histórias. Até que o motoboy da empresa começou a rir tanto da secretária que ela desconfiou e me perguntou:

- Você não está mentindo pra mim, né?
- Érika, claro que não. Onde já se viu?
- É o que eu mereço. Fico dando liberdade pra motoboy. Vai embora daqui Cassiano, vai fazer as entregas que te mandei.


Nunca mais desmenti a história e às vezes ela me pergunta:

- Tem visto o Padre Ricardo? Manda um abraço meu pra ele...