segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Ali Babá

Meu primo César tinha uma mania. Em toda porta que ele pretendia entrar, ele parava, olhava a porta de cima a baixo e dizia: “Abra-te César”. Quando ouvi aquilo a primeira vez, achei apenas engraçado, mas percebi que muita gente já estava irritada com isso.

Aos poucos comecei a ver que muitas pessoas tentavam explicar que se era pra fazer referência ao Ali Babá e os 40 Ladrões, que deveria ser: “Abra-te Sésamo”. Ele apenas olhava para a pessoa e abria um pequeno sorriso no canto da boca. Nada dizia.

Uma vez tive a impressão de tê-lo visto utilizando essa frase junto à porta da geladeira.

Outra vez, andando pelo centro da cidade, passamos em frente a um prédio abandonado, César parou, suspirou e com uma lágrima escorrendo pelo canto do olho sussurrou:

- Primo, é aqui! Eu sinto que é aqui.
- Aqui onde César? O que é aqui?

E ele me contou que quando criança, ouvindo a história do Ali Babá, ficava imaginando abrir uma porta com uma frase secreta, onde encontraria riquezas infinitas, mulheres e um mundo todo seu, mas que para isso deveria usar uma senha, uma frase só sua. Como o forte dele não era a criatividade, ele tentaria usar essa mesma: “Abra-te César”.

Eu imaginei que meu primo estava doido, mas mantive minha cara de conteúdo, como se estivesse entendendo e concordando com tudo o que ouvia. Fiz menção de ir embora, mas ele me disse pra ficar, pois ele tinha certeza de que era lá.

- Mas o que é aí?

Então ele andou até a frente da porta do prédio abandonado e disse:

- Abra-te César!

Eu não podia acreditar naquilo, pra mim já era demais, mas de repente, de dentro daquele prédio abandonado a porta se abre: Compadre Washington do É o Tchan, as Sheilas, Carla Perez e até a Débora Brasil, todos na porta fazendo sinal para César entrar. Ele virou pra mim, com os olhos já marejados:

- É aqui, achei! Achei!

E entrou, sem nem olhar para trás. Nunca contei pra ninguém o que aconteceu naquele dia. Tive até que prestar depoimento e até hoje sou suspeito pelo desaparecimento do meu primo, minha avó nem fala mais comigo...

Dias desses, César me ligou. No fundo dava pra ouvir risinhos femininos, pessoas brindando. Não consegui prestar muita atenção no que ele me disse, o Axé estava muito alto:

O califa tá de olho no decote dela
Tá de olho no biquinho do peitinho dela
Tá de olho na marquinha da calcinha dela
Tá de olho no balanço das cadeiras dela