segunda-feira, 26 de maio de 2008

Quer Sair?

- Amor, me leva pra passear?

- Claro, pra onde?

- Ah, isso eu não sei, você quem sabe.

- Mas você quer fazer o que?

- Sair

- ...

- Ah, sei lá, vamos fazer qualquer coisa.

- Lembra daquele motel que fomos ali perto do...

- Motel, Carlos? Você só pensa nisso?

- Você disse que eu era quem sabia...

- Mas motel, não.

- Hummm, estou com vontade de comer aquela pizza.

- Você está louco? Ainda não perdi aqueles quilinhos que você me disse que eu tinha achado por aí, lembra?

- Mas amor, aquilo foi brincadeira, você está uma delícia.

- Ai Carlos, você não é o mesmo com o qual eu me casei.

- Claro que não! Você ficou tentando me mudar a vida toda, pois bem, conseguiu! Satisfeita?

- Grosso.

Dez minutos depois...

- E então Alice, já se decidiu aonde quer ir? Que tal aquele barzinho da Lapa? A turma deve estar toda lá, está uma noite quente, ótima pra tomar uma cerveja.

- Não sei, você quem sabe.

- Então vamos?

- Na Lapa? É muito longe.

- Então vamos ao cinema? Li uma crítica ótima sobre o filme novo daquele ator que você gosta.

- Você sabe que eu não me entendo com a crítica desses jornais. Se disserem que o filme é uma obra de arte, eu odeio e quando falam que é ruim...

- Tudo bem, Alice. Quer ir ao shopping? Estou precisando de uma chuteira nova pro futebol.

- Chuteira nova? Eu não acredito nisso! Eu te dei uma no seu aniversário. Você não gostou né? Paguei uma fortuna e você já quer trocar? Que absurdo Carlos, francamente.

- Tudo bem Alice, não vou trocar de chuteira, melhor assim?

- Melhor...

Mais dez minutos...

- Amor, vamos deitar?

- Deitar Alice?

- É, não quero mais sair, pede uma pizza.

- Tá bom, de que?

- Ah, isso eu não sei, você quem sabe...

quarta-feira, 21 de maio de 2008

terça-feira, 20 de maio de 2008

Alguém te Ligou

Louco para mudar de emprego, enviei tantos currículos através da internet, correio e em mãos de conhecidos que minha mãe dizia que um dia eu apareceria na TV, em uma reportagem dizendo que eu era a pessoa com mais currículos distribuídos no Brasil.

Para não perder nenhuma oportunidade, meu celular estava sempre ligado e ao meu lado.

Porém às vezes me ligavam em casa, e, minha mãe anotava o recado:

“- Alguém, de alguma empresa ligou durante o dia sobre um emprego e que ligaria no seu celular.

Na maioria das vezes, não recebia essa tal ligação e acabava tendo que ir trabalhar no dia seguinte na mesma bat-caverna.

Dias desses, estava na expectativa de receber uma ligação a qualquer momento. Havia feito uma entrevista, depois outra com o responsável da área, depois um teste, depois uma conversa com a psicóloga e por fim me falaram que eu estava entre outros oito candidatos pré-selecionados. Me senti um número, mas enfim, pelo menos eu era um dos oito.

Acordei naquela manhã e viajei na idéia de que meu celular tocaria antes mesmo de eu descer do ônibus, um voz bonita no outro lado da ligação me diria: “bom dia senhor, meu nome é Michele, sou do RH da empresa ALPHA, e o senhor foi aprovado em todas as etapas de nosso processo seletivo. O senhor poderia começar amanhã?”

Confirmei se havia bateria suficiente em meu celular e lá fui eu até o ponto de ônibus. Pra variar, peguei o mesmo ônibus, com as mesmas pessoas, com o mesmo cheiro, tudo igual, todo dia.

Durante o trajeto, todo ele feito em pé, me distraíram conversas, daquelas ótimas, que uma diarista conta pra amiga como a patroa é sem grana mas vive contando vantagens para as outras vizinhas, ou então a dena de uma mãe levando os três filhos pra escola, um amontoado de crianças num pequeno espaço do banco, todas dormindo uma em cima das outras.

São milhões de histórias que acontecem em poucos quilômetros percorridos em muitos minutos de viagem, acredito que daria até um livro. Vou pensar nisso...

Assim que desci do ônibus, ouvi um sinal vindo do meu celular, rapidamente peguei meu celular e vi uma chamada perdida, gelei da cabeça aos pés, afinal eu era “um dos oito”, porém a ligação vinha de um número restrito e isso me deixou agoniado, pois, não poderia retornar a ligação.

Andei até o escritório onde trabalho, com o celular na mão, mas não recebi nada, nenhuma outra ligação. Não tinha o número do telefone da empresa onde fizera o teste, sabia que tinha um cartão, mas estava em casa. Foi um dia de agonia, quando meu telefone tocava e era alguma ligação pessoal, já dava um jeito de despachar a pessoa rapidamente, afinal eu ainda deveria ser “um dos oito”.

A noite em casa, ouço o clássico:

“- Alguém, de alguma empresa ligou durante o dia sobre um emprego e que ligaria no seu celular.

A minha chance de ser o número 1 entre os oito estava desmoronando. Corri e peguei o cartão da empresa, liguei e pedi o ramal do RH, ouvi uma voz muito simpática me atender, e, quando disse meu nome, ouvi a notícia:

“– Me desculpe senhor, mas tivemos urgência para preencher a vaga e como o senhor não atendeu nossa ligação, optamos por chamar o segundo classificado”

Pois é, agora eu sei que eu era o número 1 “entre os oito”, e, quer saber de uma coisa? Não sei se celular voa, mas ver aquele celular voando janela abaixo foi do cacete...

Fique Aí Com Seus Botões

Esses dias li um texto muito bom. Recebi de uma amiga que escreve para o jornal da Universidade que trabalha. Gostei tanto que resolvi postar, segue abaixo:

“Fique aí com seus botões”

Ouvia isso de minha mãe na infância sempre que ela me punha de castigo por ter cometido alguma infração.

Para mim, era um castigo doloroso e instigante, porque parar para pensar, naquela hora, era praticamente impossível.

Era muito difícil manter a concentração na conseqüência, uma vez que a causa insistia em prevalecer a qualquer custo.

Ordenar os pensamentos sob a ordem de uma punição, requer do ser humano, o único capaz de pensar, um equilíbrio de raciocínio quase sobrecomum.

Peguei-me pensando nisso outro dia, depois que presenciei uma situação incomum: Depois de ouvir atenta e calada a conversa entre dois adultos sobre a guerra santa no Oriente Médio, minha filha perguntou com olhos curiosos:

Mas por que eles rezam e se matam?

Por longos minutos fiquei refletindo sobre a questão levantada.

Já esgotada de tanto imaginar qual seria a verdadeira razão para o conflito, resolvi caminhar pelas ruas, ao ar livre, a fim de arejar.

Enquanto respirava ao compasso das passadas, reordenei o que havia mentalmente compilado a cerca do assunto para, posteriormente, tentar responder ao interlocutor.

Foi quando avistei, em uma vitrine, algumas camisas brancas que me fizeram adentrar à loja.

Minha euforia foi tão explícita em relação à elas, que a vendedora, de pronto perguntou:

Qual destas a senhora prefere?

Respondi: A que tiver mais botões.

Por: Ângela Matté