terça-feira, 22 de julho de 2008

Me Deve Uma

Dias desses atrás, saí atrasado de casa, pra variar parecia que havia brigado com todos os faróis, pois, era eu avistar qualquer um deles e na mesma hora já ficavam vermelhos. O trânsito era o de costume, como em todos os dias, ou seja, péssimo. Cheguei ao escritório em cima da hora e percebi que meu pneu estava baixo, mas deixei pra lá, imaginei estar apenas murcho, e, resolvi levar só depois a um borracheiro.

Minutos mais tarde, um colega veio me alertar que meu pneu estava furado, e, como bom preguiçoso que sou decidi levar o carro para consertar o pneu naquele mesmo momento, afinal fazer todo aquele processo de pegar-o-macaco, afrouxar-os-parafusos, levantar-o-carro, tirar-os-parafusos, tirar-o-pneu, pegar-o-step, encaixar-os-parafusos, apertar, baixar-o-carro, apertar-os-parafusos, guardar-o-pneu-furado... Ufa, isso cansa, sem contar que a sujeira fica na sua mão por muito tempo, vira e mexe você ainda acha uma graxinha embaixo de uma unha.

Fui a um borracheiro perto do escritório, estacionei e logo veio um garoto de uns 15 ou 16 anos, me deu bom dia e pedi pra ele arrumar meu pneu:

- Não sei remendar pneu não, patrão.

Perguntei se ele sabia ao menos trocar o furado pelo step e ele acenou positivamente com a cabeça. Abri o porta-malas do carro e deixei que ele trabalhasse. Estava distraído, e, tomei um susto quando vi que ele já havia tirado dois parafusos da roda sem levantar o carro.

- Você não vai levantar o carro, amigão?

- Rapaz, já ia me esquecendo... se você não me fala...

Fiquei assustado com o fato e fiquei alerta em todo movimento do garoto, mas achei que nada podia dar errado numa troca de pneu. Como fui inocente ao achar isso. Segundos depois meu carro estava com um vazamento próximo de onde o macaco sustentava o carro.

- Que é isso?

- Nada não patrão, só água do macaco.

- Que macaco é esse que tem água?

- ...

- Tá cheirando gasolina.

- Pior que é gasolina mesmo.

- Quer que dê uma olhada?

- Que pergunta, claro que sim.

- Ah, foi só uma pecinha aqui que quebrou, quer que arrume?

- Ai caramba, lógico!

- Achei, foi só um negócio aqui que... que... que não consigo encaixar, quer que eu arume?

- Quero, caramba!

- Não to conseguindo.

- E agora?

- Não sei, vou chamar o japonês da mecânica, ele deve saber arrumar.

O japonês sabia mesmo, entrou debaixo do carro e logo veio com o diagnóstico:

- Foi o filtro de combustível.

- Você tem um? Dá pra arrumar?

- Não tenho, mas sei quem tem, vou buscar.

- É caro?

- Não, baratinho.

Dez minutos depois, volta o japonês com a peça nova na mão, entra debaixo do carro e mais dois minutos sai de lá com cara de Jaspion que acabou de salvar o mundo e nem suou a camisa.

Olhei pra um lado e pra outro e nem sinal do garoto que fez o estrago, então virei pro japonês e disse que quem iria pagar pela peça e pelo serviço dele seria o garoto da borracharia. Acho que ele não gostou muito de ouvir isso, mas não teve saída e disse que resolveria com o dono da borracharia.

Já estava indo embora e o garoto da borracharia correu até mim e com um ar superior em suas palavras:

- Aí patrão, pode deixar que eu pago sua peça lá pro japonês.

Pensei em xingar e dizer: “claro seu filho da puta, foi você quem ferrou com meu carro, se vira”, mas pensei melhor e só disse:

- Ah, sim, claro. Obrigado, amigão.

Até hoje passo em frente essa borracharia e o garoto me olha com aquele ar de quem quer dizer: “Ta me devendo uma, hein patrão?”

Eu devia mesmo ter xingado aquele garoto.

4 comentários:

Unknown disse...

Tá vendo, quem manda ser preguiçoso...hihihi

Anônimo disse...

Excelente história.

Anônimo disse...

O sinaleiros de Porto Alegre são perfeitamente sincronizados: Esse fica verde e o próximo fica vermelho.

Anônimo disse...

Quem manda ser viado e deixar seu carro na mão do primeiro ignorante que vê. Seja homem da próxima vez que isso não acontece.