quinta-feira, 20 de março de 2008

Devora-me no Busão

Entrei no ônibus lotado, como fazia toda manhã, e dei de cara com uma loira que sempre se sentava no mesmo banco, logo após o cobrador. Porém nesse dia, ela sentou-se um pouco mais a frente. Não que eu me importasse com isso, mas nesse dia, algo não me soou bem ao ver essa cena.

Ao dar meu rico dinheirinho para pagar a passagem, inicia-se o diálogo entre mim e o cobrador:

- Colega, você mora por aqui?

Eu fiquei surpreso com a pergunta, mas respondi:

- Sim, na rua de baixo.
- Você sabia que está arrasando corações?

Tive um mini-ataque cardíaco. Mil coisas passaram em minha mente: "cacete, será que esse cobrador, está me cantando?"; "esse bigode deve arranhar" (esqueçam esse último comentário). Mesmo recém recuperado do problema súbito em minhas veias coronárias, permaneci firme, sem perder a pose e apenas levantei um canto da boca que poderia ter sido considerado um sorriso, mas era um segundo ataque cardíaco.

O cobrador do ônibus, continuou a falar:

- Tem alguém aqui no ônibus que quer muito te conhecer.

Nesse momento, veio em minha mente, quase que como uma tromba d'água, a imagem da loira sentada nos primeiros bancos do ônibus me dando um: "bom-dia-garanhão-tudo-bem?" com os olhos.

Senti um alívio refrescante no momento, algo digno de comercial de pasta de dentes feito numa praia ensolarada. Porém, meu cérebro processou rapidamente e decodificou a imagem da loira me devorando com os olhos diariamente. Aí tudo se encaixou, e, tive o terceiro ataque cardíaco. Era uma mulher daquelas que pegam o ônibus todos os dias e ficam falando alto como o patrão é ruim, como a vida é difícil sem dinheiro, como o filho não faz a lição de casa e blá blá blá... Se tem algo que não suporto em ônibus lotado é isso. Você já está lá, todo ferrado, não tem lugar pra sentar, já pisaram no seu tênis novo, e ainda por cima bate aquela sensação de que a sua marmita abriu dentro da mochila, e, ainda por cima tem que ficar agüentando as mesmas reclamações do povo todo dia? Ahhh, não dá, né?

Pra piorar, ainda havia umas garotas até bonitinhas próximas a esse fatídico diálogo, olhando pra minha cara e se mijando de tanto rir. Quase tive meu quarto ataque cardíaco, e, senti que poderia ser fulminante dessa vez.

O filho-da-mãe do cobrador nunca demorou tanto pra me devolver umas míseras moedinhas de troco, e, ainda por cima , tentou dar uma de "cupido" e me pergunta antes de liberar a catraca:

- E aí? vai querer?

Parecia que ele estava me perguntando: "estou vendendo tapioca, vai querer?"

Peguei o troco e disse:

- Próximo, vou descer no próximo.

2 comentários:

Anônimo disse...

:D Passei mal (ou melhor, BEM) de tanto Rir!!

Adorei o desenrolar da história, uma mistura de suspensa com pura comédia, rsrs, "A vida como ela é". Você é um Veríssimo.
Parabéns!

Bjos, tudo de bom!

Andrea disse...

Imagino o pânico na hora sem saber quem é a TAL pessoa enteressada kkkkkkkkk
Amei...
Beijos